A cada ano que passa, mais pessoas, e especialmente os millennials vêem na internet a fonte privilegiada para aceder a notícias, ao invés da televisão, jornais ou rádio. Oitenta e cinco porcento dos millennials afirma que manterem-se atualizados com as últimas notícias é, no mínimo, importante para eles. 60% admite encontrar e ler conteúdos noticiosos durante outras atividades que praticam nos social media [1]. Dentro das várias plataformas, o Facebook é, de longe, a fonte mais comum para notícias sobre política – 61% dos millennials afirma consumir a maioria das notícias políticas nesta rede [2].

Com o surgimento desta tendência, emergiu outra atrás: a das chamadas fake news – conteúdos com dados incorretos sobre eventos da atualidade deliberadamente publicados nas redes.
A expressão tornou-se viral durante a primeira conferência de imprensa de Donald Trump enquanto Presidente eleito dos EUA. Ao apontar para Jim Acosta, da CNN, exclamou “you are fake news!”, e recusou-se a escutar a sua questão. Desde aí, foram vários os grandes meios de comunicação que foram acusados pelo Presidente de publicarem conteúdos falsos.

Fake News

Mas foi durante a própria campanha eleitoral, em 2016, que este fenómeno ganhou força, com conteúdos inexatos acerca dos candidatos a serem divulgados no Facebook, Twitter e outras redes sociais.

Há quem acredite que tenha surgido com um intuito propagandista, de distorcer a verdade e persuadir a uma determinada ação – neste caso favorecendo um candidato em detrimento dos demais. Mas por muito política que esta tendência possa ter parecido na altura, a sua motivação terá sido outra, bem menos conspirativa: a de aproveitar um grande interesse pelo tema nas redes para levar ao fácil consumo de conteúdos. E quanto mais polémico o assunto, maior a audiência e maior o valor e lucro publicitário destes sites.

O aparecimento destas “notícias” manchou toda a comunicação social, incluindo os grandes meios de comunicação. A News Media Alliance, representante de cerca de 2.000 organizações mediáticas nos EUA e Canadá, apresentou ao congresso americano a possibilidade de negociar com a Google e o Facebook – que acumulam 60% de toda a publicidade digital dos EUA – a implementação de medidas de proteção da propriedade e de verificação destes canais.

Ambas as empresas começaram, já desde o ano passado, a apertar o cerco com as os clientes a quem vendiam espaço publicitário, deixando de apoiar aqueles que apresentavam conteúdos ilegais ou “enganadores”.

O Facebook quis ir mais longe. Em dezembro de 2016, anunciou uma parceria com quatro órgãos independentes: a Snopes, um website para procurar referências e fontes para as mais variadas informações; a PoliFact, um website criado para a verificação de factos em declarações políticas oficiais na América; a FactCheck.Org, uma plataforma de verificação de factos políticos lançada pelo Annenberg Public Policy Center; e os especialistas na verificação de dados da ABC News. Todas estas entidades são membros da Poynter International Fact Checking Network, que ajudou a definir os critérios de sinalização das ditas fake news.

Se mais de duas destas organizações duvidarem da veracidade dos conteúdos, os utilizadores passarão a ver este artigo com um aviso que indica que organizações o marcaram como duvidoso. Com este aviso, as organizações disponibilizam também um artigo da sua autoria que explica a razão da suspeita.
O conteúdo é também penalizado pelo próprio Facebook, aparecendo mais abaixo no feed dos utilizadores, e também não poderá ser alvo de promoção publicitária.

fake news

Mas a luta contra as notícias falsas não terminou aqui. Na Europa, e num ano de eleições em vários países e outros momentos de maior tensão política, as notícias falsas foram encaradas como o inimigo público a abater. Na sua sede, uma equipa de 11 pessoas conhecida como East Stratcom, e composta por diplomatas, burocratas e ex-jornalistas, tem como função de apurar e desacreditar histórias falsas divulgadas nas redes sociais – nomeadamente as divulgadas na Rússia.

O Parlamento alemão também aprovou já uma lei que comporta multas até 50 milhões de euros para empresas de social media que não retirem conteúdos criminais num certo espaço de tempo, nomeadamente os difamatórios ou que incitem o ódio.

Apesar de todos estes esforços, os conteúdos noticiosos falsos continuam a proliferar-se. A última esperança reside agora nos próprios millennials, e se calhar nem tudo está perdido; estes valorizam a honestidade e, com o seu amplo conhecimento sobre as redes sociais e outras plataformas digitais, têm uma maior propensão para verificar a as fontes e veracidade dos conteúdos que consomem. Esta é uma geração que valoriza a autenticidade, seja nas suas relações, trabalho ou enriquecimento pessoal.

Aprender a escolher é difícil. Aprender a escolher bem é mais difícil. E aprender a escolher bem num mundo de possibilidades ilimitadas é ainda mais difícil, talvez até demasiado difícil.”, afirmou o psicólogo Barry Schwartz na obra Paradox of Choice: Why More is Less.

É um desafio – mas é um que esta geração está disposta a enfrentar

[1] How Millennials Get News: Inside the habits of America’s first digital generation – American Press Institute

[2] Millennials and Political News – Pew Research Center (Journalism & Media)