Tanto ou mais que para interação, as redes sociais tornaram-se o lugar de eleição para a expressão. Cada uma das redes sociais, com as suas características, sacia diferentes carências dos utilizadores. O Twitter pode ser considerado o espaço de excelência para o microblogging, o LinkedIn aponta para as ligações e partilha de conteúdos de interesse profissional, e o Instagram para a apresentação de imagens trabalhadas e que remetem para os melhores momentos dos utilizadores.

Até há pouco tempo, a vantagem estratégica do Snapchat assentava na possibilidade de partilhar conteúdos que se “autodestruíam depois de lidos”; ou seja, desaparecendo assim que eram visualizados, davam ao utilizador a coragem para partilhar algo que não deixava rasto. Esta efemeridade, antes exclusiva do Snapchat, ganhou ainda maior apelo com a criação das Snapchat Stories – que ao invés de desaparecerem após abertas, têm um prazo de validade. Esta característica despertou um novo interesse a uma geração de utilizadores que, acima de tudo, se quer expressar a toda a hora, independentemente da possibilidade de se virem a arrepender da publicação que fizeram, ou de não receberem a atenção que esperavam com a mesma. Num espaço onde tudo pode ser relembrado, procura-se agora um lugar onde seja possível esquecer.

Este parecia ser o fator chave para o sucesso de uma rede como o Snapchat – até o Instagram decidir imitar esta ideia, oferecendo aos seus mais de 700 milhões de utilizadores a possibilidade de partilharem momentos mais espontâneos e crus da sua vida. Tudo porque o mundo não é só feito de momentos perfeitos – conforme explicou Kevin Systrom, co-fundador e CEO do Instagram, quando anunciou o lançamento das Instagram Stories: “se o Instagram é baseado nos momentos de destaque, agora estamos a preencher os espaços entre os mesmos – e a caminhar na direção da expressão visual no geral. Queremos dar a oportunidade de capturar todos os momentos, e não apenas os melhores.”

O exponencial desta busca pelo conteúdo efémero e autêntico foi mais longe ainda com o conceito do Live. O Facebook, uma das primeiras redes a investir nesta funcionalidade, admite hoje que os seus utilizadores passam em média três vezes mais tempo a ver um vídeo transmitido em direto do que um em diferido. O Twitter seguiu o exemplo, com as transmissões no Periscope, e, por fim, também o Instagram.

Para as marcas, esta tendência apresenta-se como uma oportunidade única para criar experiências mais imersivas que estejam alinhadas com os seus objetivos e posicionamento e que cruzem os interesses dos seus públicos com uma forma de interação facilitada e divertida.

A marca de vestuário britânica Missguided transformou a sua conta de Instagram numa espécie de montra clicável. Através das Instagram Stories, apresenta os seus produtos de forma diferente, aproveitando a nova funcionalidade da rede que permite associar um link às imagens; desta forma, se virem algum produto de interesse, os utilizadores têm apenas de deslizar o dedo para cima (swipe up) para aceder à página do produto.

Também a Dunkin Donuts, cuja comunicação passa essencialmente pelos conteúdos visuais, decidiu inovar, ao aproveitando o Dia de São Valentim para apresentar aos seguidores, em direto, a sua “cozinha de testes”, onde todas as inúmeras criações tomam forma. A emissão terminou com a elaboração de um bolo gigante coberto de donuts, que deixou 36000 mil espetadores pregados ao ecrã do seu smartphone.

Por Portugal, o festival portuense NOS Primavera Sound aproveitou estas duas funcionalidades para fazer um teaser do cartaz da edição de 2017. No Facebook, lançou sem aviso um vídeo em direto com um jovem de casaco e boné amarelo a circular pela cidade do Porto, enquanto publicava Stories no seu Instagram. O vídeo, que só por si, nada desvendou, prendeu a atenção de mais de 99.700 curiosos. Já no canal do festival no Instagram, podiam ser vistas nas Stories as imagens que este jovem estava a publicar – que revelavam os diversos artistas que iriam compor o cartaz.

A tendência para os conteúdos espontâneos e menos “editados” exige às marcas uma maior personificação. Mas também lhes permite chegar mais próximo que nunca dos seus públicos. “Sem uma cara ou personalidade, as marcas não estão prontas para o fator “tempo real” das Instagram Stories”, explica Patrick Brown, que lidera o canal Love Food, no Instagram (6 milhões de seguidores). “A mudança para o Live, contudo, significa que as marcas terão de começar a ser mais pessoais e ter conteúdos menos “direitinhos”.