Nunca conheceram um mundo sem internet e «não têm tempo a perder»

Geração Z, Geração Digital, Geração.com, iGen, os Verdadeiros Nativos Digitais, as Crianças da internet, Geração media, os Z’s, os Instant Online, tantas designações… mas afinal quem são eles?

Talvez ainda saibamos pouco acerca dos mesmos, mas a verdade é que sabemos muito sobre o ambiente em que esta geração nascida no final da década de 90 cresceu. E mais: sabemos que esse ambiente os transformou nos consumidores mais desafiantes e exigentes de sempre.

“Usam dispositivos touch, sabem que podem aceder a conteúdos que estão em clouds, e sabem que o Google é a solução para todas as suas perguntas.”

Patrícia Dias, Universidade Católica Portuguesa

Falámos com a professora e investigadora nas áreas de comunicação e marketing para social media e mobile na Faculdade de Ciências Humanas [FCH] da Universidade Católica Portuguesa [UCP], Patrícia Dias, que partilhou connosco a sua perspetiva sobre esta geração tão difícil de alcançar: “A grande característica da Geração Z é precisamente relacionar-se com as tecnologias digitais como algo que sempre existiu, que está completamente integrado nas suas rotinas quotidianas.”

 

“Perderam as referências sobre como era a vida pré-digital. Eles nasceram com elas, não se habituaram a elas, como as gerações anteriores – e, por isso, essa será sempre a característica central de todas as suas expetativas, experiências, histórias, estilo de vida e valores face à forma como percecionam o mundo e as marcas em seu redor. Além disso, as tecnologias que utilizam atualmente já são muito diferentes da world wide web e das mensagens SMS“, acrescenta.

“As marcas estão a lidar com uma geração que vive num ritmo de vida acelerado. É uma geração que não distingue entre online e offline.”

As marcas devem, por isso, mostrar coerência entre o mundo online e offline, evitando criar barreiras entre estes. Os jovens da geração Z estão sempre conectados e estranharão se assim não for. Assim, privilegiam-se estratégias integradas e transmedia, ao invés da concentração da comunicação em apenas um canal, como nos sugere a investigadora Patrícia Dias. Para esta geração cada rede social serve um propósito diferente.

“Não é fácil captar a atenção da Geração Z, e muito menos mantê-la.”

Fazem muitas coisas ao mesmo tempo. Por isso, não é boa ideia fazê-los esperar, não estão habituados a isso. Têm uma relação próxima e ativa com os media e com as tecnologias. Querem ser cativados e incluídos e “abominam a comunicação push e hard selling.”

Recebem estímulos constantes – “só darão atenção às marcas que respondam verdadeiramente às suas necessidades e preferências, no momento certo.” As marcas precisam de investir a todos os níveis, desde a experiência que oferecem in-store até aos métodos que dão a esta geração o que necessita, sem a tal espera – experimentem fazê-los esperar um dia e será tarde demais, vão escolher outra marca. Assim, é fundamental que haja um foco na instant gratification, que consiste na resposta rápida e adequada às suas necessidades.

Fidelizar-se-ão não aos produtos e serviços que cada marca oferece, mas às marcas em si, e aos valores que representam, desde que se identifiquem com eles, diz-nos Patrícia Dias, que sugere que, por vezes, nem existe um “consumo efetivo”…

“Os benefícios gerados para as marcas surgem na forma de word-of-mouth e influence.”

Ouvem os amigos e colegas, e esses podem ser alguém que viram no YouTube. Criam muito mais engagement com pessoas reais porque é com essas pessoas que estão conectados nos social media. São as fotografias dessas pessoas que veem no Instagram, são as opiniões dessas pessoas que leem no Twitter e são dessas pessoas os vídeos que veem no YouTube. Mas a verdade é que esta geração só os seguirá enquanto encontrar genuinidade nos conteúdos que partilham. O modelo tradicional do embaixador da marca que é pago para dizer que determinado produto é bom não serve para esta geração, os conteúdos comerciais perderam todo o impacto. “Se a relação com a marca se tornar muito evidente, a opinião do influencer perde credibilidade. Assim, o grande desafio para as marcas é precisamente construir relações com os influencers certos, que sejam genuinamente utilizadores e fãs da marca também, para que possam comunicar isso de forma sincera e autêntica com os seus seguidores.”

É preciso ser-se transparente e não esquecer a instantaneidade e imediatez que tão bem caracterizam esta geração.