Uma lista de amigos (e, na maioria dos casos, amigos que já esquecemos), uma aplicação de mensagens, um marketplace, um canal de TV (sim, o Facebook será em breve um canal televisivo), um meio de comunicação… E também uma rede social, não nos podemos esquecer disso.

Ainda assim, estarão de acordo de que isto de ser ou não ser uma rede social é cada vez mais confuso e subjetivo. Há já vários anos que o Facebook é tudo menos uma rede social, e o seu rumo começa a tornar-se incerto. Zuckerberg prometeu, na semana passada, “arrumar” a casa, e voltar às já esquecidas “personal connections”, depois de um ano em que viu o Facebook ser severamente criticado por contribuir para um clima de extrema polarização política, pela distribuição de notícias falsas (já abordadas também neste blog) e pelo foco nas questões da privacidade.

E além disso, todos sabemos que as notícias partilhadas no Facebook não serão necessariamente as mais importantes nem as mais sérias, porque o que mais nos preocupa quando estamos a partilhar um conteúdo nesta rede é conseguirmos as reações que queremos dos nossos “amigos”, e não ter um bom senso jornalístico.

Nos últimos tempos, e devido à insatisfação dos grandes grupos de media, o Facebook começou a tentar acalmar todas as partes, enviando comunicados que tranquilizassem as empresas sobre esta atualização do newsfeed – pois procura voltar às suas origens sem prejudicar aqueles que investem mais na plataforma.

Mas a dependência entre grupos de media e o Facebook existe nos dois sentidos.  Esta rede social é responsável por aproximadamente 17% das visitas aos sites das empresas que participam no Digital Content Next, um grupo que representa meios como a Bloomberg News, a CNBC, a 21st Century Fox e a Al Jazeera, segundo Jason Kint, diretor executivo desta organização.

Hard Questions: Será que o Facebook se vê ao espelho?

Neste contexto, o Facebook decidiu há uns meses dar resposta às perguntas que começavam a acumular-se e a afetar a sua reputação. Através da rubrica “Hard Questions” na sua Newsroom, a equipa do Mark Zuckerberg tenta responder a questões de todos os tipos:

  • Aos medos dos utilizadores atentos aos novos avanços tecnológicos (e que são acentuados por séries como Black Mirror), que lançam, por exemplo o debate sobre o reconhecimento facial e a proteção da privacidade dos utilizadores.
  • As grandes controvérsias e críticas que têm envolvido esta rede social em torno das campanhas políticas, sendo esta acusada de ser um dos principais instrumentos da propaganda política do século XXI. Várias publicações nesta rubrica tentam elucidar a polémica dos supostos anúncios pagos pela Rússia para a vitória eleitoral do atual presidente dos EUA, ou inclusive, a responsabilidade de redes como o Facebook em impedir que os terroristas espalhem propaganda online.
  • Da mesma forma, abordam assuntos éticos e até filosóficos como o que acontece à identidade digital de uma pessoa depois desta falecer.

E este parece ser o caminho certo. Acreditamos que nem o próprio Facebook sabe qual vai ser o seu rumo durante este ano, ou nos próximos, mas o importante é que seja consciente do impacto de cada uma das decisões que toma no seu negócio. Por estes motivos, devemos exigir ao Facebook e às grandes empresas que marcam o quotidiano da nossa sociedade que sejam transparentes e que se questionem sobre cada passo que decidem dar. Só assim podemos ter esperança de que tudo corra bem.