O Facebook volta a trazer-me até aqui, e não por questões positivas, como devem imaginar. Uma rede social que, à partida, sempre tem sido a minha favorita, mas que depois do último escândalo da Cambridge Analytica, julgo muitos mais estão comigo a repensar este favoritismo.

Eu admito que nunca tive medo nem fui fundamentalista sobre esta questão da privacidade dos meus dados (embora seja de estranhar por trabalhar numa consultora de comunicação). Sempre pensei que eu não faço nada no mundo digital que não faça no mundo analógico, e como eles já têm os meus dados, o mínimo é que sejam usados ao meu favor (e obviamente com o meu consentimento!). Isto pode traduzir-se numa melhoria da minha experiência como utilizadora, como por exemplo, que todo o conteúdo que apareça esteja adaptado aos meus interesses e gostos. Parece pedir muito, mas em troca eu estou a contar-lhes tudo o que acontece na minha vida em cada minuto.

Inside Facebook: o que sabe o Facebook sobre nós

Foi um antigo professor da universidade (e possivelmente um dos maiores especialistas de Semiótica em Espanha), Raúl Magallón, quem me fez começar a pesquisar mais a partir do que publicou no seu perfil de Twitter: as configurações e permissões que damos ao Facebook, e como isto pode chegar a ser tão preocupante. Podem comprovar e testar o que vos vou mostrar nas vossas próprias contas, indo à parte de Settings dos vossos perfis.

  • Sabiam que podemos descarregar um excel com toda a informação que o Facebook tem sobre nós? Podemos solicitar uma cópia, que chega ao email onde temos vinculada a nossa conta do Facebook. Façam um teste e vejam a quantidade de informação que tem este excel. Além da quantidade, que parece mais óbvia, comprovem o que o Mat Jonhson (escritor americano e professor da Universidade de Houston) diz. Efetivamente, esta é a questão mais séria: o Facebook está a compilar contatos de contas de e-mail que nem estão associadas à nossa conta do Facebook, incluindo a conta de e-mail dos nossos “amigos”. Verifiquem o que o Mat Jonhson diz ao abrir o arquivo “contact_info.htm” dentro da pasta “html” dos vossos excels, porque chega a ser assustador!

Tweet Mat Johnson

Outras informações que aparecem neste arquivo: sabe se salvou os anúncios nos quais eu cliquei, as minhas conversas, o IP através do qual me liguei, o browser, o local estimado do IP, as apps instaladas e informações do nosso email.

download information FB

  • Sabiam também que o Facebook quer continuar a usar os nossos dados depois de falecermos? Obtendo os dados da pessoa que fica como responsável pelo nosso “legado”. Leiam por vocês mesmos o que aparece nos nossos Settings sobre isto. Concordo com a ideia de que coloquemos uma pessoa que fique encarregue do “nosso legado” no Facebook quando acontecer algo assim, mas unicamente para que apague a conta. O problema é que o Facebook incentiva que esta pessoa possa interagir desde a tua conta (“Esta pessoa vai poder marcar uma publicação na tua cronologia, responder aos teus pedidos de amizade novos e atualizar a tua foto de perfil”)! Medo, muito medo!

your legacy contact FB

  • Por último, saibam que as apps de jogos do Facebook não são tão “inocentes” como parecem. Eu também desconhecia até há uns minutos, que estes jogos que poucas vezes usei, são as maiores fontes de recolha de informação pessoal do Facebook.

Estamos a dar permissão aos nossos amigos, para que as aplicações recebam as seguintes informações. A explicação do Facebook não podia ser mais subtil: “As pessoas no Facebook que podem ver a tua informação também podem levá-la consigo quando utilizam aplicações. Isto torna a tua experiência melhor e mais social”. Eu mesma fiz este print screen no meu próprio perfil dos requisitos que descobri e que não preenchi nunca, mas que tinha ativos.

apps other users FB

E por hoje ficamos por aqui. O que exemplifiquei até aqui é o que Facebook mostra de uma forma mais clara, ainda não investiguei mais. Como utilizadores do Facebook devem saber que esta rede social está cheia de links com “Learn more” que nunca abrimos, e onde se escondem aprovações que nunca demos e explicações que é melhor não querermos ter. Uma espécie de letras pequeninas que os contratos têm e às quais nunca damos muita importância ou “escutamos” com atenção.

Sei que este post não irá ajudar a esta reconciliação que talvez procuremos com esta rede social, mas a descoberta, hoje, dá-me vontade de “desamigar” o Facebook.